Thursday, September 14, 2006

ENTREVISTA A ALEXEI BUENO por PAULO JOSÉ MIRANDA

PAULO JOSÉ MIRANDA, escritor , poeta e dramaturgo, português de nascimento, mas de destinação indefinida:-) entrevistou ALEXEI BUENO, Poeta, brasileiro, carioca, o Píndaro da Lapa.


Eis o resultado dessa conversa entre dois agentes escandalosamente indiscretos adoradores de Dionisos, também conhecido por Baco.



Em que sentido a tradição assume para ti o centro da poesia, e não apenas da tua?

ALEXEI BUENO – Há muito tempo me afastei da ilusão do progresso, da evolução em coisas humanas. Sou um tanto schopenhauriano nisso, pessimista portanto. Ora, na medida em que me distancio desse belo sonho da perfectibilidade humana, o peso da continuidade torna-se muito sensível. Sob esse aspecto tudo é tradição, nossos três mil anos de poesia ocidental, o infinito prazer estético que encontro em Homero, coisa que já impressionava Marx, obviamente um partidário da perfectibilidade, etc. Com todas as infinitas alterações externas, o fundo para mim persevera, logo trbalhamos com a mesma matéria da tradição, tudo é tradição.


PMJ:Julgas que a poesia brasileira vive um momento pujante? E esse momento tem territórios mais ou menos bem definidos, ou é extensivo a todo este imenso território?

A B – Há grandes nomes, muitas vezes pouco conhecidos ou injustiçados, mas não diria uma pujança. Pujança a poesia brasileira viveu em dois momentos, sem entrar no mérito de grandíssimos poetas isolados, no Romantismo e na maturidade do Modernismo, ou seja, em 1850-1870, e 1930-1960.


PMJ: -Em 1999 foste o responsável por uma antologia da poesia portuguesa, que conheces, não só a antiga, mas também a actual, como vês a poesia portuguesa neste momento? Julgas que há pontos de contacto entre as poéticas brasileiras e portuguesas, na última década?

A B – Não, perecem-me muito diferentes, o que até me espanta, talvez por Portugal ter vivido uma importante experiência surrealista, o que nunca aconteceu entre nós, país até hoje mentalmente dominado pelo positivismo mais tacanho, até na arte, e pela grande hegemonia do Concretismo no Brasil, uma espécie de máfia, de fascismo, durante a ditadura militar, mas com reflexos até hoje. Eu, pessoalmente, me sinto muito ligado à poesia portuguesa, mas sou um tipo sui generis.

PMJ -Qual a tua relação com as poéticas dos países vizinhos, de língua castelhana? Neste momento, como as avalias? E, em geral, o Brasil tem boas relações poéticas com esses países?

A. B. – A literatura hispano-americana é riquíssima, na prosa e na poesia, que aprecio muito, mas o desconhecimento é total entre o Brasil e os países hispânicos e vice-versa. No seu livro de memórias, Mon dernier soupir, Buñuel fala de Portugal como aquele país que parecia aos espanhóis mais distante que a China. Posso dizer que isso se reproduziu na América do Sul, com um país único que fala português virado para o Atlântico, e uma grande variedade de países (como no fundo é a Espanha) falando castelhano e fazendo fronteira com ele, mas como se estivessem do outro lado do mundo.

PMJ: Neste momento, o Brasil vive um momento político bastante conturbado. Como vês essa situação? De que modo este momento político pode ajudar ou prejudicar a poesia, em particular, e as artes, em geral?

A. B. – A esquerda brasileira é, ao que tudo indica, a pior do mundo, a mais incompetente, a mais despreparada. O Brasil caiu no obreirismo, essa coisa que Lenine já condenava, e elegeu como presidente um ex-operário semianalfabeto – no qual, como bom imbecil, eu também votei – o qual, além de criar o maior esquema de corrupção da história da república, faz o governo mais sordidamente de direita que aqui já se viu, incluindo os generais. Para a poesia isso não afeta nada, o espírito sopra quando quer, mas a situação de patrimônio histórico, por exemplo, com esse governo ultra-neo-liberal, está dramática.

PMJ: Poesia e Brasil têm o mesmo destino?


A. B. – Para o bem da poesia, espero que não...


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Uma pergunta que eu faria os dois:


Meg (Sub Rosa): Soube há pouco que Nuno Júdice, o poeta português acab de fazer um blog e o está atualizando, minha pergunta é:



Paulo, já tens um blog - diz-nos o que estás achando e o que pretendes com ele. E seja como for, recomendarias a Alexei que mantivesse um blogue também, vocês, os dois que são Senhores do Tempo?


Alexei, seguirias a recomendação de Paulo?

Não tenho esperança de que me respondam:-)

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